A Sociedade e a Criatividade
Há muito tempo que vivo com uma cabeça com demasiada imaginação, mas nunca soube o que fazer com ela. Durante os tempos de escola, só praticava a componente técnica de desenho, raramente tínhamos a oportunidade de dar asas à imaginação. Em Português, estudávamos verbos, preposições e funções sintáticas como se fossem a coisa mais importante do mundo. Treinar a interpretação de texto e a escrita criativa é que não.
Fui conseguindo viver nesta ignorância criativa até precisar de escrever a dissertação. E, se quando comecei a escreve-la achava que não seria necessário qualquer tipo de criatividade, ao fim de vários dias a olhar para as palavras e não saber o que fazer com elas, me apercebi da falta que faz uma educação correcta em Português (essencialmente). E, ao fim de alguns dias, fiquei a saber que esta opinião é partilhada por muita gente, professores incluídos.
Vivemos numa sociedade centrada em empregos passados atrás de uma secretária, com a cabeça baixa, as costas encurvadas e a disponibilidade de trabalhar para além das 8 horas diárias (e ai se nos atrevemos a não fazer mais do que essas 8 horas..). Quando se ouve alguém dizer que quer ser pintor, escritor, dançarino ou actor, o primeiro comentário que se ouve é "contínua a estudar, que só assim é que consegues um emprego decente". Ou então que a pessoa é preguiçosa e não quer trabalhar a sério. Ou então que vive numa ilusão (ganhas o jackpot se ouvires os três comentário de seguida, vindos da mesma pessoa).
Tentamos matar a criatividade desde crianças, ao enche-las de trabalhos de casa e de actividades extra-curriculares ligadas ao desporto e à aprendizagem de línguas (que também são coisas importantes, mas, nos tempos que correm, têm sido em exagero), de modo a cansa-los para que não os tenhamos de aturar durante a noite. Impedimos-los de brincar, porque fazem muito barulho ou porque se sujam. Ou então, sinal dos tempos modernos, damos-lhes telemóveis ou tablets para que fiquem caladinhos.
Estamos a criar zombies que, com o avançar da idade, se tornarão depressivos, incapazes de se adaptarem às adversidades e incapazes de apreciarem as coisas mais simples, como um sorriso ou um abraço., por exemplo.
Vivemos numa sociedade que anda a matar a criatividade e nós assistimos a isto, impávidos e serenos, como se fosse a coisa mais natural.
Alike, Daniel Martínez Lara e Rafa Cano Méndez