O Perigo da Neutralidade
Eu sei que muitas pessoas gostam de se manter neutras em determinadas situações/assuntos. Eu própria, principalmente no que toca ao trabalho, gosto de me manter de parte e não dar a minha opinião, muito por causa da incapacidade das pessoas de ouvirem opinião diferentes. Mas há situações em que ser neutro é colocar-se do lado do culpado
Ao não subscrever à declaração de 13 Estados-membros, e alegando o "dever de neutralidade", o governo português acaba por passar a mensagem de que não importa com os direitos humanos. Para muitos, o que a Hungria fez não é nada de especial. No entanto, quando se proíbe a "representação e promoção de uma identidade de género diferente do sexo à nascença, da mudança de sexo e da homossexualidade" a menores de 18 anos, cria-se um estigma e uma intolerância junto dos jovens. Eles deixam de ter exemplos que mostrem que eles são normais. Deixam de conseguir dar um significado ao que sentem. Perdem a oportunidade de conhecer outras realidades e desenvolverem empatia pelo outro. Começam a desenvolver preconceitos. E assim se forma uma sociedade intolerante e sem capacidade empática. E isto será só a ponta do iceberg. Mas a Hungria não está sozinha. Existe também a Polônia e as suas "zonas livres de LGBT". E a intolerante Bielorrússia. E a Europa permanece quieta
O governo português assim quis manter-se "neutro" perante uma situação que colocará em risco (numa fase inicial, apenas) a vida dos jovens húngaros. Porque continua-se a achar que não é nada demais. E o mais ultrajante é que há uns dias atrás, o nosso querido primeiro-ministro publicou uma foto nas redes sociais onde hasteava a bandeira arco-íris e a dizer que não há lugar para o ódio e a discriminação em Portugal. Mas em que ficamos? Que mensagem achas que estás a passar aos portugueses quando dizes que temos o dever de sermos neutros quando os direitos LGBTQIA+ estão a ser atacados nos outros países? Diariamente, oiço comentários homofóbicos (nem sempre dirigidos a mim) e as pessoas acham que é a coisa mais natural do mundo. E o governo português, em vez que serem um exemplo para a sociedade portuguesa, decide olhar para o lado e assobiar. Não se pode ser-se neutro no que toca a direitos humanos. Ou estás do nosso lado ou estás contra nós!
"Devemos sempre tomar partido! A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o atormentador, nunca o atormentado. Às vezes devemos interferir. Quando vidas humanas estão ameaçadas, quando a dignidade humana corre risco, as fronteiras nacionais e as sensibilidades tornam-se irrelevantes" - Elie Wiesel (retirado da página da Dezanove)
Hoje e sempre me vestirei de arco-íris
P.S.: Afinal, Portugal irá assinar a declaração, no dia 1 Julho, após terminar o mandado no Conselho Europeu. Menos mal